sábado, fevereiro 04, 2012

“Diário: Amontoados de coisas”

E porque o amor é infinito é preciso parar de dedilha-lo, ou não se para nunca.

Só o tema “Amor” já tem o poder de libertar o melhor que há em mim. Através do esforço para entendê-lo, o meu cinismo se esvai e acato a ordem imperativa de amar. E o amor brota e se reparte em fatias finas e ultrapassa o limite do meu eu e vai servir. Quando isso ocorre chego a pensar que é o amor é quem nos dá asas, embora um fabricante de bebida enérgica pense diferente.

Dizem que as cinco emoções básicas são: Amor, Medo, Alegria, Tristeza e Raiva. Devo ter falado a respeito de todas elas, vou aproveitar e dar continuidade falando da emoção da alegria, já que ela é muito estimulante.

 

A L E G R I A

Eu queria escrever algo que os jornais quisessem publicar. Que as revistas repetissem, e estivesse nas bocas das pessoas, se não todo conteúdo, ao menos algumas frases prontas. Que as pessoas perguntassem umas as outras:

- e ai você leu o que ela escreveu?

Sem muita cerimonia e nem muitos bons dias... De chofre!

Que milhares de pessoas rissem ao tentarem repetir o que foi que eu publiquei. E que ao ouvir, a outra pessoa, caísse numa risada incontida. Daquelas em que não se pode falar, por culpa do cérebro que não acompanha a narrativa e chega ao final da piada antes de contá-la. E que fica tentando completar frase, pensamento e piada e nada... Sai apenas aqueles sisisisss descontrolados.

Que piada seria essa? Não tenho a mínima ideia! Prefiro até que não seja piada, pois piadas são engraçadas, mas não levadas a sério. E gostaria de ser levada a serio, da maneira mais maravilhosa que existe. Através da alegria. Que fosse uma alegria leve e cumprisse seu destino de paz.

Queria escrever algo tão eficaz capaz até de impedir os pensamentos tristes.

Essa vontade quem teve primeiro foi Rubem Braga, o meu cronista predileto. Lembrei-me de todo o ocorrido daquele dia, em que li: “Meu ideal seria escrever”...

Era dia de semana, o sol estava agradável, era manhã, eu estava tão esplendidamente feliz, que resolvi dar-me um presente. E por isso decidi ir à praia e ficar preguiçosamente por lá.

Estava a passeio na casa da minha sobrinha, na cidade de Paraty. Para não ficar apenas tomando sol, passei na estante e procurei um bom livro, havia muitos, mas teve um que me chamou a atenção, e nem foi pelo colorido, pois é branco, mas porque o livro me escolheu.

Sai com “200 Crônicas Escolhidas – as melhores de Rubem Braga”. Não me recordava de ter lido até aquele dia nada desse autor, a não serem frases. Eu desejava o prazer de uma boa companhia e, se tinham conseguido separar, duzentos escritos de um mesmo autor então ele era bom. Conclui! E o levei a passear comigo.

Li uma crônica e outra e fui lendo, e amando o que lia. Até ai nada de mais quem conhece Rubem, sabe desse poder dele em cativar e manter a atenção, mas estando só, é preciso ler e manter a boca fechada. Não é permitido soltar o riso, para não passar a impressão de que se é doido, mas com esse maravilhoso escritor é tarefa difícil. Quando li:

- Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse – “ai meu Deus, que história mais engraçada”! E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantadas de vê-la tão alegre...

...Que um casal que estivesse em casa, mal-humorados, o marido bastante aborrecido com a mulher, à mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos”.

Como ficar impassível com um comentário desses. E ele não parou por ai, já que o seu desejo por uma historia engraçada era muito grande, ele continuou imaginando...

- Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse – e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lagrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse – por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!

Essa história do comissário foi tão hilária que nem liguei mais para o riso que forçava a abertura dos meus lábios. E pensei: - que se dane se até o comissário não gosta de prender ninguém, eu que não vou prender meu riso. E a partir daí fiquei mais a vontade...

Recomendo a leitura dessa crônica, não vou transcrevê-la inteira, pois a historia vai longe e vai a outros continentes, passa a ser contada em outras línguas. Vale muito descobrir como termina.

Além de recomendar Rubem Braga recomendo a cidade de Paraty. Escritor e cidade me trazem alegria quando penso neles. Ele conseguiu de fato o que desejou. Quando recordo alguma crônica sua, a alegria me vem aos lábios.

O autor estava esbanjando alegria naquele dia, tanta, que até hoje ela escorre do livro e vai parar diretamente no coração da gente.

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Mulheres em Trânsito
Sou alguem que aprendeu enfim a penetrar na profundidade do meu eu. Tenho descoberto diversos tesouros escondidos Coisas que quis ser e não fui. Como ainda respiro, provando estar viva, vou ser o que quero ser. Não sei se isso explica quem sou eu. Pois nem que eu usasse os 1200 caracteres permitidos, conseguiria dizer quem sou eu. Sou criança ainda estou aprendendo.
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